Segundo a Lei nº 4383 de 28 de junho de 2006 foi instituído o Dia da Favela no Calendário Oficial do Município do Rio de Janeiro, a ser comemorado no dia 4 de novembro.
A discriminação social e racial, a falta de oportunidades, a presença do narcotráfico e da polícia como única face de expressão do Estado são determinantes da construção da identidade das favelas.
Desta forma, a iniciativa da criação do Dia da Favela tem como objetivo trazer modelos positivos de identificação das comunidades para a cidade através da valorização da diversidade sócio-cultural das comunidades, resgatando a autoestima e a cidadania dos moradores locais.
Texto: Gizele Martins
A favela virou moda. É verdade sim, ela virou moda. Na verdade, ela
sempre foi um grande espetáculo para os telejornais, jornais, seja lá
qual mídia for. Mas é certo também que ela sempre esteve nas páginas
mais sangrentas. Só, só nestas páginas, mais nada! Afinal, a favela,
segundo esta sociedade capitalista neoliberal, é sinônimo de violência,
de violência e violência!!! E para por aí.
O que não é por acaso. É preciso criminalizar quem mora nela. Já
que apenas parte desta sociedade pode, neste sistema dominar, ter
direitos, ser considerado gente! E para esta parte, nós favelados
precisamos sumir, não podemos sequer existir. É por isso que não temos
direito à educação, à saúde pública, à segurança, à moradia, dentre
diversos outros direitos. O nosso único direito, na verdade, é o de
sermos escravos desta minoria.
O maior problema é que eles dominam tudo mesmo. Conseguem até fazer
com que a gente negue a si próprio, negue e criminalize a nossa própria
identidade. A nossa própria cultura, história, vida. Eles fazem a gente
se sentir burro, preguiçoso e até criminoso.
Sim, é verdade! Qual o favelado que nunca ouviu isto? Que nunca
ouviu que quem mora na favela é criminoso, é burro e que nunca estudou
porque não quis ou não se esforçou o bastante!? Certa vez, sentada no
sofá da minha casa, ao lado da minha querida avó de 60 anos, ouvi a
seguinte frase: “É, Gizele, eu não estudei porque não quis. Fui
preguiçosa e hoje sou empregada doméstica porque eu escolhi!”.
Vocês acreditam nisto? Tem gente que vai ler este texto e vai até
concordar com ela. Mas eu na mesma hora a questionei e falei: Mãe, a
senhora teve que trabalhar com que idade? durante toda a minha vida só
vi a senhora trabalhar. A senhora é preguiçosa mesmo? Ela respondeu:
“Ah, Gizele, trabalhei desde criança. Quando eu fiz 20 anos meu marido
morreu e criei meus filhos sozinha, mas nunca deixei de trabalhar. Eu
chegava na escola e dormia, e aí desisti”.
Enfim… ela achava mesmo que escolheu esta vida. Que era preguiçosa e
tudo mais. Mas é este o recado que recebemos todo o tempo. As pessoas, a
sociedade nos coloca sempre como um problema, como culpados por apenas
existirmos. E a maioria não percebe que não somos este tal problema, mas
sim que o que vivemos é a consequência desta estrutura de mundo, de
capital, de riqueza concentrada nas mãos sujas de poucos, de diferença
social.
E, para fechar este texto em homenagem ao “dia da favela”, este
lugar que virou moda e, até mesmo, local de exploração financeira para
alguns, digo que favela é resistência. E quem vai valorizar e passar o
recado de que a minha avó, por exemplo, e todos os outros mareenses e
moradores de favelas são guerreiros é a mídia alternativa, a mídia
comunitária. Aquela feita pelo povo e pelos amigos e defensores do povo!
A outra mídia está fazendo o papel dela e bem feito, e nós precisamos e
devemos fazer o nosso! Comunicação Comunitária é direito e dever
humano!!! Somos favelados, resistentes, temos cultura, somos gente!
Queremos direitos!
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